Um mosquito que atende pelo nome de Aedes aegypti derrubou Felipe. Vítima de dengue em maio, o goleiro perdeu a posição de titular do Flamengo para Paulo Victor. Seja inseto ou avião, o jogador não é fã de coisas que voam ou sobrevoam suas ideias. Tido como polêmico, envolvido em notícias sobre possíveis problemas com Ronaldinho Gaúcho e distanciamento de outros atletas, o camisa 1 dá sua versão sobre os fatos. Questiona a imprensa e sugere uma manchete que gostaria de ler: “Convocado para a Seleção, Felipe é campeão das Américas pelo Flamengo”.
Mas nem só de boas notícias é feito o cotidiano do goleiro, que revela mágoa com Joel Santana, primeiro a lhe dar uma chance como titular ainda no Vitória, mas que no Flamengo teve postura diferente:
- Não teve aquela conversa assim: “Trabalha, volta, espera o momento”. Não teve isso. No momento deixa a pessoa triste, chateada.
Em momentos de chateação, Felipe costumava explodir com declarações polêmicas. De tanto fazer isso no Twitter, cancelou a conta. Agora, garante que está zen - não a ponto de meditar - e explica o fato de ter sido chamado de "mão de pau" por Ronaldinho Gaúcho:
- Se tudo que falarmos no treino, um apelido, uma brincadeira, for botar na imprensa que é sério, não vai ter mais brincadeira.
Mas nem só de boas notícias é feito o cotidiano do goleiro, que revela mágoa com Joel Santana, primeiro a lhe dar uma chance como titular ainda no Vitória, mas que no Flamengo teve postura diferente:
- Não teve aquela conversa assim: “Trabalha, volta, espera o momento”. Não teve isso. No momento deixa a pessoa triste, chateada.
Em momentos de chateação, Felipe costumava explodir com declarações polêmicas. De tanto fazer isso no Twitter, cancelou a conta. Agora, garante que está zen - não a ponto de meditar - e explica o fato de ter sido chamado de "mão de pau" por Ronaldinho Gaúcho:
- Se tudo que falarmos no treino, um apelido, uma brincadeira, for botar na imprensa que é sério, não vai ter mais brincadeira.
Em entrevista ao GLOBESPORTE.COM no condomínio onde mora, na Barra da Tijuca, o goleiro lembra a dificuldade de preencher a lacuna deixada pela saída conturbada de Bruno em 2010, revela seu desejo de voltar a ser titular, diz que sofre pressão dos filhos e conta o que seria se não fosse jogador.
- Militar da Aeronáutica, igual ao meu pai.
Avisado sobre a pergunta com direito a trocadilho, Felipe ouve o questionamento: melhor trabalhar na aeronáutica ou num banco?
- Os dois são complicados.
Felipe demonstra maior habilidade com as palavras, dribla polêmicas e deixa claro que, depois da dengue e de tantos problemas, aprendeu a lição: em boca fechada não entra mosquito.
Confira a íntegra da entrevista:
Como foi ser derrubado por um mosquitinho? Você vinha como titular do Flamengo e tudo começou por causa da dengue.
- Militar da Aeronáutica, igual ao meu pai.
Avisado sobre a pergunta com direito a trocadilho, Felipe ouve o questionamento: melhor trabalhar na aeronáutica ou num banco?
- Os dois são complicados.
Felipe demonstra maior habilidade com as palavras, dribla polêmicas e deixa claro que, depois da dengue e de tantos problemas, aprendeu a lição: em boca fechada não entra mosquito.
Confira a íntegra da entrevista:
Como foi ser derrubado por um mosquitinho? Você vinha como titular do Flamengo e tudo começou por causa da dengue.
No início é complicado. Nunca tinha tido dengue, não sei onde peguei também. Acabei ficando um mês afastado, fiquei quase uma semana internado, depois houve a recuperação. Houve muita perda de peso, de massa muscular. Foi complicado. Por causa de um mosquito, por uma doença, saí da equipe.
Você chegou ao Flamengo com todo aquele questionamento, o Vanderlei Luxemburgo comprou a sua briga e logo você se identificou com a torcida. Veio o Campeonato Carioca, pegou os pênaltis e ajudou o time a ir para a Libertadores no Brasileiro. Sair da equipe por conta de um problema de saúde é diferente? Você sabe que não foi por deficiência técnica. Como é isso?
Situação diferente, complicada, até um pouco difícil de aceitar no início. Mas tem que acatar a decisão do treinador no momento, foi a decisão que ele escolheu. No início bate um desânimo, depois de um ano e meio, de tudo que você fez, e por um mês você acaba ficando fora. Parece que esqueceram tudo que foi feito. Mas a gente sabe que futebol é assim, é o momento. O pessoal não lembra muito o que você fez. Você se faz algumas perguntas. Será que tudo que você fez não valeu de nada? Mas futebol é assim, não vai ser a primeira vez, não vai ser a última. Aconteceu comigo, já aconteceu com outros atletas também. Agora é continuar trabalhando, com a chegada do novo treinador (Dorival Júnior) os ânimos se renovam, e mostrar nos treinamentos que tenho condição de voltar.
Pouco antes você sofrera uma pancada na cabeça, ficando um tempo fora e sendo bem substituído pelo Paulo Victor. Mas voltou a ser titular. Te pegou de surpresa dessa vez? Como soube que não voltaria como titular?
Fui saber pela imprensa. Este ano para mim foi um dos piores em questão de lesão. Nunca tive esse histórico de me machucar. Nem no Corinthians, nem no Vitória, nem no Bragantino. No Braga (de Portugal) eu tive uma lesão, mas foi coisa pouca. E aqui esse ano eu tive duas. Uma foi até séria, que foi uma pancada na cabeça, nunca é fácil, acabei tomando seis pontos. E agora a dengue. Foi uma dengue forte, me deixou bastante debilitado. E fiquei sabendo pela imprensa, me preparei, sabia que tinha que voltar a treinar forte, perdi peso. Goleiro é diferente dos outros atletas. Em uma semana você perde tempo de bola, velocidade de reação. Quando eu soube que estava bem, que o Cantarele (preparador de goleiros) me liberou, mesmo sabendo que o Paulo vinha jogando bem, e ele está bem, ajudando o Flamengo da melhor forma possível, é uma surpresa porque você está jogando há um ano e seis meses com boas atuações. Erros vão acontecer sempre, a gente trabalha para errar o menos possível. E soube pela imprensa que a opção do treinador seria continuar com o Paulo. Você não é obrigado a aceitar a decisão, mas tem que acatar a opção do treinador. Naquele momento foi difícil, o primeiro mês foi bastante complicado, depois ainda tive o negócio do meu pai (problema de saúde), mas graças a Deus não passou de um susto. É normal desanimar. Mas com a chegada de um treinador tudo muda, de um mês e meio, dois meses para cá, coloquei isso na cabeça. Você só pode voltar treinando e é isso que estou fazendo.
Pela relação que você tinha com o Joel desde os tempos de Vitória, esperava uma conduta diferente?
Ele foi meu primeiro treinador profissional, que me botou para jogar. Meu primeiro jogo como profissional foi com o Joel. Na época ele até barrou o goleiro que tinha muito tempo de casa, mais experiente, que era o Paulo Mussi. Eu era júnior, treinava como quarto goleiro do profissional, mas ele chegou, me pegou e colocou para jogar. Então até pela relação que a gente tem de bastante tempo, acho que do grupo era quem mais conhecia ele, me pegou de surpresa, sim. Não teve aquela conversa assim “trabalha, volta, espera o momento, o Paulo está bem, vem ajudando”. Não teve isso. No momento acaba deixando a pessoa triste, chateada, mas tudo na vida passa, aquele momento complicado já passou. Recebi muita coisa, questão de família, muitos parentes aqui, minha esposa em casa, meu filho cobra: “Pai, você não vai jogar?”. A gente se apoia nessas coisas para esse momento complicado passar e espera a oportunidade.
A gente sabe que você é uma pessoa polêmica, que fala sempre o que pensa. O que existe de verdade ali dentro? Dá para notar que no meio desse desânimo você estava até um pouco afastado. Sentiu-se isolado em algum momento?
Eu tinha mais amizade fora do clube, de ir na casa ou de vir na minha casa, com o Thiago (Neves) e com Willians (ambos deixaram o clube). Tínhamos mais aproximação. Mas com os outros atletas tenho uma relação superboa. No mais é o meu jeito mesmo. Há um tempo acabei respondendo uma pergunta de um amigo de vocês. Você nunca participa da rodinha (de bobo)? Fica separado? Isso é porque realmente eu não gosto. No Corinthians uma vez tomei uma porrada e acabei me machucando. Você nunca vai me ver numa rodinha de bobinho. Eu falo com todo mundo. Renato, Negueba, Diego Maurício, Muralha, Thomás. Os mais novos, principalmente, porque estamos sempre pegando no pé. Às vezes vocês de fora acabam não percebendo. A minha relação com todo mundo é muito boa, tranquila. O Léo (Moura), o Renato, que é um dos mais experientes e o que mais a gente pega no pé. Os companheiros me ligam, quando estava no hospital me ligaram. O Luiz Antonio também. São pessoas que eu sei que gostam, mas não é aquela relação de estar fora, de sair ou de ir na casa. Mas de falar e de brincar nunca teve problema nenhum.
Há alguém com quem não se dá bem?
Num grupo grande, às vezes você acaba não se identificando com todo mundo. Num grupo de 35, 36, você fala mais com um, menos com outro, mas nada além disso. É identificação mesmo. Mas ali nesse grupo é difícil um atleta não falar com o outro. É um grupo muito bom, todo mundo se fala, todo mundo brinca.
Sua relação com o Paulo Victor mudou depois de tudo isso?
A gente continua conversando. A relação, como ele falou, é profissional. A gente conversa, não tem problema nenhum. Eu respeito ele, ele me respeita. Acho que é cada um buscando o seu espaço, mas acima de tudo com respeito. Isso sempre teve. A gente conversa, brinca no treino, conta piada, história. A gente brinca até com o outro goleiro que subiu no lugar do César, o Douglas, que é o mais novo. A gente sempre fica pegando no pé dele, colocando apelido. Então é uma relação tranquila.
Você e Ronaldinho Gaúcho tinham uma relação mais próxima no começo. Houve um momento em que ficou distante. É questão de grupo? O que você pode falar do Ronaldo? A gente nota que houve uma transição. O que aconteceu?
É relação de gosto mesmo. Era próximo, mas continuava próximo, sempre que possível estava com ele, ele foi no aniversário do meu filho, foi um dos poucos que foram ao aniversário do meu filho. Foi criado um negócio que eu tinha problema com ele, mas não tinha problema nenhum. São vidas diferentes, são gostos diferentes. Tem coisas que ele faz que eu não podia fazer, que não posso fazer. Mas não quer dizer que não seja mais próximo. Outros atletas podiam estar mais tempo com ele, mas a relação foi sempre boa. Nunca tive discussão, estava sempre conversando com ele. Disseram que ele falou que a gente não se falava. Era tudo mentira. O cara que poderia estar em qualquer lugar saiu da casa dele e foi no aniversário do meu filho. Se o cara não se desse comigo, não faria a mínima questão disso. Quando a gente lê essas matérias, às vezes se chateia, mas às vezes acaba rindo porque não sabe de onde acabam tirando tanta história. Algumas pessoas têm intenção de falar mal, de colocar problema onde não tem.
Uma dessas histórias é a de que ele te chamava de 'mão de pau'. Já ouviu isso da boca dele?
Já. Dele, do Renato, do Love, do Léo. Renato é quem mais fala. Se vocês pararem para ver o treino, ele fala “mão de pau”, “mão de quiabo”. Mesma coisa quando a gente fala que ele só tem a perna direita para caminhar (Renato é canhoto). Isso tem no treino. Se tudo que falarmos no treino, um apelido, uma brincadeira, for botar no jornal como algo sério, não vai ter mais brincadeira. Quando alguém está devagar, a gente fala que está com calça jeans molhada, que não quer se mexer. Coisas que acontecem em qualquer clube. O Ronaldo já falou do Paulo, do Carné, do César. Às vezes alguém chuta, ninguém pula, aí falam que não é goleiro, mas sim vigia. Isso acontece. Como foi o Ronaldo e o Felipe, já criaram um problema para ver se dava algo mais. Da minha parte nunca teve nada e com certeza da parte dele também não.
Na sua vida parece que tudo é com uma dose de polêmica. É mais ou menos por aí?
É complicado. Às vezes você foge um pouco dessa rotina dos atletas e fala o que pensa. E a imprensa reclama que os atletas não falam o que pensam, que são certinhos. Mas quando alguém fala diferente, a mesma imprensa diz que é polêmico. Mais novo eu já criei muitos problemas, você acaba sendo rotulado, principalmente quando atuava no Corinthians e saía de campo com derrota falando o que não era para falar. Era para falar, mas não ali. Você acaba sendo rotulado. Mesmo assim depois de um ano e meio tentando fazer tudo diferente, mostrando que não é nada daquilo, ainda tem esse respingo lá de trás. Você acaba se acostumando, mas sempre trabalhando para evitar que isso continue.
Umas das coisas que animavam o pessoal e você deixou de fazer era o Twitter.
(Gargalhadas) O Twitter me deu muita dor de cabeça, para a alegria de vocês. Acabei optando por cancelar, tomei algumas broncas.
Houve o episódio do Fluminense (chamou o time de Florminense), que acabou sendo o seu primo...
Foi ele. Na hora que você está com a cabeça quente é complicado. Foi melhor para mim, deixa ele lá desligado, desativado, não tem problema nenhum. Há um tempo fui fazer uma brincadeira com uma amiga vascaína, houve até um tipo de problema, mas estou num momento zen, quero só treinar e está bom.
Você ficou um bom tempo sem querer dar entrevistas. Estava com medo de falar alguma besteira, de criar alguma polêmica, de esquentar demais?
Acho que não era o momento de falar. Quando você sai do time, fica de cabeça quente, chateado, às vezes quer um tempo maior para pensar. Na primeira semana que eu comecei a ir para o banco saíram muitas coisas, que eu não falava com o Joel, que estava sendo boicotado. Você acaba vendo, se chateando, e no momento que você fala acaba falando algo sem pensar, criando problema. Deixei o tempo passar, ficar um pouco mais tranquilo, para esquecerem um pouco meu nome. Tudo que saía sobre o meu nome era ruim. Que eu não falava com um, com outro, com treinador. Mas não era aquilo, tinha a confiança da diretoria, que fez esforço para me trazer para cá. A gente sabe a situação financeira que o Flamengo tem, eles tiraram uma quantia relativamente alta para um goleiro. Isso mostra que não sou tudo aquilo que falavam. Fiquei até mais tranquilo, conversei com o Zinho, ele falou que contava comigo. Dorival também conversou, falou que conta comigo. É continuar trabalhando para quando aparecer a oportunidade estar bem para estar em campo.
Você falou que está zen. Como seria o Felipe zen? Fica meditando?
(Gargalhadas) Pensando mais no que falar. Diante do grupo às vezes você fala uma coisa e acha que não vai fazer diferença e só no outro dia você vai ver o estrago feito. Por isso fiquei sem dar entrevistas, mais tranquilo, deu para pensar, ouvir conselhos. Principalmente da família. Estou focado, quero cumprir meu contrato com o Flamegno. Quando cheguei no Flamengo, disse que um ano de contrato seria pouco para mim. Quero cumprir o contrato até 31 de dezembro de 2015, dar muitas alegrias aos torcedores ainda.
E nesses conselhos muita gente disse para sair, buscar outro rumo? O Atlético-MG demonstrou interesse em você, falou-se em Vitória. Muita gente te aconselhou a sair? Você pensou nisso?
Muita gente fala, né? Você acaba ouvindo muito isso. A primeira coisa que acontece é pensar em sair. Você pensa: tenho que sair, ir para outro lugar, quero jogar. Mas se em todo lugar que acontecer alguma adversidade você sair, vai ficar rodando, rodando, rodando. Minha vida sempre teve obstáculos, eu sempre superei. Meu histórico é esse. Não vai ser na primeira adversidade que vou pedir para sair do Flamengo. Em nenhum momento eu cheguei a pedir para sair. Se houve proposta ou não, foi entre diretorias, meus empresários. Mas para mim não houve nada. Quero ficar aqui, independentemente da situação. Acho que não é demérito nenhum ficar no banco quando outro atleta vem jogando bem, vem correspondendo. Você tem que esperar o momento. Você já viu que o Marcos, pentacampeão do mundo, ficou no banco para o Diego Cavalieri um tempo no Palmeiras. E é o maior ídolo da história do Palmeiras. Não tem motivo para se sentir envergonhado.
O que te crendencia a ser titular do gol do Flamengo?
O que te crendencia a ser titular do gol do Flamengo?
Todo mundo que está no Flamengo se credencia a ser titular. Eu trabalho para ser titular, o Paulo, o Carné, o César. Todo mundo quer ser titular no Flamengo. Tem que ter autoconfiança, goleiro é sempre sozinho. Todo mundo tem condição aqui. Até o terceiro goleiro, se tiver chance, vai querer ficar também. É o momento. Você tem que aproveitar a chance para ficar.
Agora você tem que correr atrás de novo. Você foi titular do Flamengo numa época difícil. Teve de substituir o Bruno, um ídolo da torcida, que até hoje é lembrado, e saiu de uma forma problemática. Foi difícil?
Foi um momento complicado, o Bruno saiu por todo aquele problema. O (Marcelo) Lomba assumiu e acabou sendo bastante criticado. Quando eu cheguei, sabia que a cobrança seria grande sobre mim ou qualquer outro goleiro que chegasse e fosse um pouco conhecido. Chegaria no clube de maior torcida do Brasil e que já vinha há um tempo sem goleiro, principalmente porque o anterior saiu de forma trágica. E eu tinha que mostrar. Cheguei com um histórico de problemas, saí do Corinthians brigado com o presidente. Então ficou aquele negócio. Será que esse vai? Será que vai ficar aqui? Tanto que tive um contrato de risco. E a situação dos pênaltis acabou me ajudando. No primerio campeonato que eu fiz com o Flamengo, sabia que tinha pênaltis e tal. Sabia que o Bruno era um monstro nos pênaltis, pegava muitos. Foram importantes os defendidos contra o Botafogo, Fluminense, os do Vasco foram para fora. A torcida colocou mais confiança em mim e foi assim o ano inteiro.
Você está nesse momento zen, com paciência, mas é um cara que já foi apontado como candidato ao gol da seleção brasileira. Como fazer para que esse momento tranquilo não perca a validade? Até pela sua personalidade, você não parece que vai aceitar isso por muito tempo.
Todo mundo quer jogar. Se eu falar que estou feliz, é mentira. A gente não precisa aceitar, mas tem que respeitar o nosso comandante. Foi assim com o outro que estava aí, com o Dorival está sendo assim. Tenho que continuar trabalhando. Não adianta falar que quero jogar e chegar no treinamento e não mostrar. Tem o treinador, seus quatro, cinco auxiliares, e sempre vai ter alguém vendo ali. Se ele não ver, o auxiliar pode dizer que estou treinando bem. Não adianta falar, mostrar ou chegar na diretoria. Tem que mostrar no treinamento, o treinador ver que tenho condições de voltar e é o que estou fazendo. Sempre tem alguém vendo. Quando a oportunidade aparecer, quero voltar a jogar bem para depois ninguém poder dizer que tive a oportunidade e não joguei bem. A gente não sabe quando ela vai aparecer, acabei de perder a posição faltando uma semana para o Brasileiro. Treinei de manhã, estava bem, e à tarde estava no hospital.
A cobrança começa dentro de casa?
Filho fica naquela cobrança grande. Meu filho está acostumado a me ver jogar desde o Corinthians. Era pequeno, mas já estava acostumado. Ele cobra, liga quando está viajando e me pergunta: não está jogando? Eu digo que vou voltar. Em casa mesmo começa a cobrança. É até mais um ânimo para chegar no treino e se dedicar mais ainda para poder dar uma resposta para ele também. Meus parentes estão acostumados a ir para o jogo e estão vivendo uma situação diferente, mas futebol é assim.
E a torcida? Você já ouviu críticas dos rubro-negros na época da Libertadores, que rebatia as bolas para frente. Como tem sido o contato nas ruas? Tem ouvido pedidos para voltar?
Torcedor é momento. Torcedor age mais com a emoção do que com a razão. Hoje você é o melhor. Se domingo você não vai bem, é o pior. Aí na quarta-feira você pega um pênalti e já é o melhor novamente. A gente tem que saber lidar com o torcedor, é movido por paixão. Ele tira dinheiro de casa para comprar ingresso. Hoje eles querem você, amanhã não querem mais, mas domingo pedem de volta. A relação com o torcedor é complicada. A gente tem que entender. Eles pegam sol, chuva, viajam para longe de ônibus. O importante é sempre ter o apoio do torcedor. Erros acontecem. Quando goleiro erra, normalmente é fatal. Atacante pode perder dez gols, mas se ele faz um no fim e o time ganha por 1 a 0 é capa de jornal. Goleiro pode pegar tudo, mas se no fim do jogo toma um gol e o time perde de 1 a 0, a culpa é dele. Goleiro é assim, tem que saber lidar com o torcedor. Eu sei lidar. Isso é normal.
Se não fosse jogador de futebol, o que seria?
Seria militar igual ao meu pai. Para jogar bola eu tive que sair de casa. Meu pai falou: é bola ou militar? Decidi jogar bola, era um sonho que tinha, um sonho da minha mãe. Se não fosse atleta, seria militar como meu pai.
Aeronáutica não, né?
Aeronáutica.
E o medo de voar?
Não. Aí seria controlador de voo (risos). Meu pai é controlador de voo, trabalharia lá também, mas sem entrar no avião.
Como está o medo de avião? Melhorou?
Cada vez pior. Não tem jeito. Eu vou viajar, já vejo a previsão do tempo a semana inteira. Essa semana vamos para Floripa, é sempre um lugar ruim de pousar. Já fico concentrado porque sempre tem alguma coisa. Mas é tranquilo. O pessoal sabe que tenho medo. No início tinha a sacanagem, mas o pessoal viu que não era brincadeira, fico na minha poltrona na saída de emergência, no cantinho, sozinho, suando, nervoso. O que importa é que o avião tem que chegar.
Melhor trabalhar na Aeronáutica do que num banco?
(Gargalhadas). Não sei... Não sei, não. Complicado os dois.
Apesar de tudo que é publicado sobre você, o que acha da imprensa?
Tem pessoas e pessoas. Quando você dá entrevista para dez pessoas, você consegue ver em oito as mesmas coisas e duas tentando distorcer o que você falou. Isso é do caráter da pessoa, tem gente que gosta de aparecer em cima disso, mas é a vida. Não é só na imprensa. É em time, em outros lugares. Não é só na imprensa do Rio. A imprensa de Portugal é bem complicada. A brasileira não chega nem perto. São seis ou sete jornais só de esporte. A gente tem de saber lidar, a gente precisa da imprensa, a imprensa precisa dos atletas, é saber lidar. Às vezes você encontra quem quer o seu bem e às vezes quem não quer. Tem que saber conviver com isso.
Alguma manchete que você sonha ver em breve na imprensa?
Convocado para a Seleção, Flamengo campeão das Américas.
Com Felipe no gol?
Claro, pode ser também. Importante é o clube, mas se for comigo melhor ainda. Às vezes você sente falta de estar aparecendo. Não com coisas ruins, com coisas boas. Às vezes só aparece ligado a brigas. Mas com trabalho a gente vai mudar isso.
A manchete ideal hoje seria ‘Felipe volta a ser titular do Flamengo’?
Essa aí é a que estou trabalhando para que aconteça. Faz uns três meses que começou o Brasileiro. Para mim é diferente, nunca fiquei tanto tempo sem jogar assim. Vou continuar trabalhando para que eu possa voltar.
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