Seis pontos na tabela e alguns milhões no bolso. As contas que o Flamengo precisa fazer para se classificar para segunda fase da Taça Libertadores da América não são importantes somente pelo prestígio internacional e para evitar o vexame de ser eliminado no estágio de grupos pela segunda vez consecutiva. Vale muito mais do que isso. Literalmente. Em reais. Com um orçamento de R$ 340 milhões aprovado para 2014, o Rubro-Negro aposta em avançar, no mínimo, até as quartas de final da disputa continental para alcançar as metas traçadas para o futebol. O fim do sonho do bicampeonato de forma precoce causaria a necessidade de gerar receitas na casa de R$ 10 milhões para que a corda não aperte ainda mais no pescoço no decorrer da temporada, colocando em risco até mesmo o cumprimento de responsabilidades.
De acordo com as cotas pagas pela Conmebol, a classificação para as quartas de final renderia R$ 2,8 milhões para o Flamengo (R$ 1,3 milhão por chegar às oitavas e R$ 1,5 milhão por avançar para fase seguinte). Além disso, há uma estimativa de, no mínimo, cerca de R$ 1,5 milhão de bilheterias por partida realizada no Maracanã, que somado a outras variáveis alcançaria o prejuízo que não sairia dos cofres rubro-negros, mas deixaria de entrar. Quem explica a matemática é o vice-presidente de finanças, Rodrigo Tostes.
- Previmos que cada jogo daria, no mínimo, um determinado valor de renda líquida, que geraria em torno de R$ 1,5 milhão. Fora isso, há toda uma consequência de sócio-torcedor, que é difícil calcular, mas há uma lógica. Quantos vamos deixar de ganhar? Quantos vão deixar de ser sócio por causa da Libertadores? No mínimo, deixa de aumentar. É um risco. Acredito que no total gira em torno de R$ 10 milhões que o clube planejou e deixaria de ganhar. Teríamos que fazer uma engenharia para compensar esse valor, ou através da redução de custos ou aumento de receita. Um lado vai sofrer para mantermos as contas em dia. Caberia a nós traçar prioridades. Não arrecadar o que prevíamos coloca as contas do Flamengo em risco.
Com quatro pontos, o Flamengo é o lanterna do Grupo 7 da Libertadores, mas ainda depende apenas de si para seguir adiante. Para isso, precisa vencer o Emelec, dia 2 de abril, em Guayaquil, e o León, uma semana depois, no Maracanã. Caso empate no Equador, o Rubro-Negro se colocará na mesma situação que viveu em 2012, quando foi eliminado. Será necessário vencer em casa e aguardar o resultado do confronto entre Bolívar e Emelec na altitude de La Paz. Já uma derrota fora de casa sepulta de vez qualquer possibilidade de classificação e liga o sinal de alerta nos departamentos de futebol e finanças.
De acordo com Rodrigo Tostes, o cálculo é feito com base no que cada área do clube pode gerar de receitas ao longo do ano. A partir daí, metas são traçadas. Se contar com a conquista da Libertadores soaria ousado até demais, a diretoria rubro-negra fez uma estimativa com base no investimento feito para montagem do elenco e gastos com a própria competição. A folha salarial, por exemplo, que girava na casa dos R$ 6 milhões com as reduções drásticas de 2013 (como dispensas de Love e Ibson) ultrapassa os R$ 9 milhões atualmente.
- Todas as áreas no Flamengo têm uma meta mínima, futebol, esportes olímpicos, Gávea... O orçamento foi criado em cima do que cada um poderia entregar. A meta do futebol foi chegar às quartas de final (da Libertadores). Traçar o real impacto ainda é muito precoce, porque não aconteceu. É algo que inclui bilheteria e premiação, além de patrocinadores, sócio-torcedor que deve aumentar a cada avanço de fase. Tudo isso é calculado. Além disso, os custos são voltados para essa ordem. O futebol é mais caro do que o ano passado. Tudo teria que ser recalculado. Que comprometeria de forma geral o orçamento e contas, comprometeria. Teríamos que decidir onde cortar.
Com a calculadora nas mãos, uma eliminação precoce na Libertadores causaria impacto também no planejamento para a disputa do Campeonato Brasileiro. A necessidade de se readequar impediria contratações mais imponentes e pode gerar até mesmo redução dos gastos.
- Não faremos loucuras e nem vamos comprometer todo projeto que temos para manter as contas em dia. Por exemplo, perder a Libertadores e contratar um monte de jogador. Isso não vai acontecer - avisa Tostes.
MESMO EM CASO DE TÍTULO, CARIOCA É DEFICITÁRIO
Se por um lado a Libertadores faz parte do planejamento financeiro rubro-negro e depende de sucesso nos gramados, no Carioca não há matemática que mantenha as números no azul. Campeão da Taça Guanabara e com vantagem nas semifinais e finais, o Flamengo encara a Cabofriense quarta-feira, no Maracanã, por um lugar na decisão. Um título, por sua vez, amenizará muito pouco as contas, que não são nada vantajosas de acordo com Rodrigo Tostes. Enquanto a relação receita e despesa por jogo gera uma margem de lucro muito pequena, tudo que envolve a participação na competição não supre o investimento.
- Para o Flamengo, é um campeonato muito deficitário. Não podemos levar em conta somente o custo da partida. Temos que pensar que há um time, que está com os salários em dia e com um custo que não compensa para esta competição, mesmo que seja campeão. Se somarmos todos os custos, é deficitário. O Carioca não funciona para o Flamengo e imagino que também para os outros.
Mesmo com reabertura do Maracanã, estádios do Carioca têm ficado vazios (Foto: Alexandre Cassiano/Agência O Globo)
A premiação ao campeão estadual deste ano aumentou consideravelmente: de R$ 800 mil em 2013 para 3,5 milhões. A ideia era cativar os clubes num ano em que Botafogo e Flamengo participam da Libertadores, e o Vasco estaria mais focado no segundo semestre, na disputa da Série B. Mas segundo informou a coluna “Panorama Esportivo”, do jornal O Globo no dia 26 de janeiro, a “generosidade” teve um alto custo a ser arcado justamente por Fla e Vasco, pois a Ferj tirou de ambos 10% do que recebiam a título de televisionamento. Assim, se o rubro-negro ou o cruzmaltino forem campeões, estarão apenas recebendo de volta aquilo que lhes foi confiscado.
Tostes acredita em soluções mais lucrativas para os primeiros meses do ano, e cita a Copa do Nordeste como um exemplo bem sucedido de competição atrativa e com retorno financeiro, através da participação dos torcedores.
- Perdemos oportunidades. O que o Flamengo poderia fazer neste período, com estes jogadores, para gerar receita? Podia existir uma Liga, ou participar da Copa do Nordeste... Se for ver quantas pessoas vão ao estádio na Copa do Nordeste e quantas vão no Rio, as contas estão aí. Imagino que o Flamengo ganharia cerca de R$ 500 mil por jogo se jogasse no Nordeste - disse, deixando claro que trata-se de um exemplo e não há movimentação para jogar a competição.
Ponto de divergência entre clube e torcedores no início do ano, o preço dos ingressos não é o causador dos estádios vazios no Carioca na opinião do dirigente. Apesar de admitir que é algo que pode ser levado em conta na decisão do torcedor, Rodrigo Tostes aponta como principal causador do fracasso de público a organização da competição.
- Para o cara ir a qualquer evento, pensa em duas coisas: comodidade e a qualidade do espetáculo. Um jogo às 22h, quarta-feira, com TV, é algo que te dá um conforto maior ficar em casa. É preciso analisar o contexto. O cara não sai de casa se for R$ 1 para ver um jogo no Aterro no horário que for. É uma questão de qualidade e comodidade. Não estamos cumprindo nenhum dos dois hoje em dia. Esses componentes são maiores do que a conta. O valor pode atrapalhar, concordo. Mas não acho que seja o que vai resolver. O Flamengo tem um conceito e acha que tem que cobrar um valor que acha justo.
Flamengo e Cabofriense se enfrentam nesta quarta-feira, às 22h (de Brasília), no Maracanã, pela primeira partida da semifinal do Campeonato Carioca. O preço dos ingressos para partida variam de R$ 60 a R$ 190 (inteira).
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